terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Este men tem razão

"Se avaliássemos o primeiro ano de mandato de Carlos Santos Ferreira pela evolução das acções do BCP, bem podíamos recomendar-lhe que passasse pelos Recursos Humanos e assinasse a carta de despedimento: o banco vale um terço do que então valia. Os donos do banco estão pelas ruas da amargura, arrastando nisso os pequenos investidores. Mas a responsabilidade é de quem? Dos donos...
Nem no futebol às chicotadas psicológicas se seguem sucessos imediatos. E o mandato de Santos Ferreira não foi o de descobrir a pólvora, mas o de evitar que o barril explodisse. O presidente do BCP arrola entre os seus sucessos ter conseguido mobilizar um aumento de capital, com a prestimosa ajuda da Sonangol; e ter libertado o Cavalo de Tróia chamado BPI, deixando ambos satisfeitos: Tróia e o Cavalo. Mas a maior vitória de Santos Ferreira não está no que fez, mas no que não fez: não minguou o banco, como chegou a parecer inevitável, e mantém nos dedos os seus melhores anéis: Polónia e Grécia. Não por sorte (coisa que tem faltado na Grécia, onde os motins do fim do ano prejudicaram directamente o banco) mas por resiliência. Mais: na próxima apresentação de resultados, estranhamente tardia, é possível que o BCP apresente dos melhores rácios de capital da banca nacional, o que beneficia o banco que, ademais, ganhou um balão de oxigénio quando o Banco de Portugal decidiu agilizar a pressão contabilística sobre os fundos de pensões. Santos Ferreira fez de facto parte da solução do BCP, quando passou a geri-lo, mas também antes disso. No jogo de poderes em definição, foi ele que, como presidente da Caixa Geral de Depósitos, aprovou o financiamento a Joe Berardo, que agora lidera um rasto de destruição de valor com acções do BCP. E, aqui, os bancos têm culpas: ao não executarem as contrapartidas dos devedores quando as acções começaram a cair, apropriaram-se do risco dessas acções. Agora que as acções caíram muito mais, os bancos já não podem deixar cair os investidores perdulários, sob pena da falência deles ser a sua. Os accionistas Joe Berardo, Manuel Fino, Teixeira Duarte e Privado Holding estão com a corda na garganta e pedras atadas aos pés. Endividaram-se demais e ficaram com acções que valem raspas. A crise financeira é culpada neste processo (desde o seu início, os bancos mundiais perderam 75% do seu valor!), mas não morre solteira. Houve investimentos temerários no BCP e ganância não foi o único pecado mortal cometido: houve vaidade de quem quis um projecto de poder; houve avareza de quem quis transferir valor do BCP para outras empresas.A estrutura accionista do BCP está longe de estar pacificada. Mesmo com a Sonangol, Eureko e Stanley Ho disponíveis ou interessados em aumentar a posição, há espaço e preço para novas entradas – e a crise tem mostrado que há atiradores furtivos que beneficiam da desvalorização significativa de activos para comprar posições que lhes permitam sair mais fortes no mapa financeiro mundial que se segue. O BBVA, por exemplo, está a fazê-lo, bem como o Santander. E como mostra o interesse do Sabadell na rede do BPN, o mercado português ainda não se tornou desinteressante para os espanhóis. A banca já se mostrou terreno inóspito para entradas hostis, mas, num terreno de aflitos, é fácil colocar uma estaca. Santos Ferreira caminha, equilibrista, no fio de uma navalha aguçada. Houve um tempo em que no BCP se geria um equilíbrio de forças. Hoje gere-se um equilíbrio de fraquezas."
in Jornal Negócios Online, by Pedro Santos Gurreiro

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